Em uma era em que o modelo de “open business” está a caminho de se tornar “open everything”, as boas práticas relativas ao uso de APIs são extremamente importantes. Os times de TI deixam de ser arquitetos de tecnologia para se transformar em arquitetos corporativos. Portanto, é fundamental, para quem trabalha com APIs, entender o que fazer e o que não fazer nas estratégias que envolvem essas soluções.
Esses serão alguns dos temas do painel “Developing a customer-centric API strategy to drive digital transformation“, a ser apresentado por David Mooter, analista sênior da empresa de pesquisa e consultoria Forrester Research, durante o APIX 2023, o maior evento especializado em APIs do mundo, que acontece no dia 22 de junho, no WTC, em São Paulo.
Mooter tem vários anos de experiência na liderança de arquitetura no setor de seguros. Ele tem foco nos princípios de design que priorizam os negócios e arquiteturas de aplicativos, como APIs que promovem a inovação e a flexibilidade sustentável dos negócios. Seu trabalho de pesquisa se concentra em tecnologias de arquitetura, como integração, estratégia e gerenciamento de APIs, arquitetura orientada a eventos e microsserviços.
Um dos destaques do painel será a governança de APIs. Conforme o relatório da Forrester, “Centralized API Governance Considered Harmful”, de autoria de Mooter, “algumas organizações decidem descartar a governança centralizada de comando e controle, pois ela torna a TI muito lenta”. O relatório também observa que, “se as APIs são a estratégia de negócios [de uma empresa], APIs sem governança são uma estratégia de negócios sem governança que vagueia sem rumo”.
The Shift participou de uma entrevista com David Mooter, para antecipar detalhes do seu keynote no APIX 2023 e detalhar mais o conceito de APIs centradas no cliente. Abaixo você lê destaques da conversa. E para ver gratuitamente a palestra de Mooter no APIX 2023, basta se cadastrar para a Jornada Digital.
A importância da estratégia de APIs para as empresas
Na medida que as empresas se tornam mais digitais, seus recursos de negócios ou são enterrados em uma confusão incoerente de silos de texto, ou são expostos como APIs reutilizáveis. E isso abre muitas novas oportunidades interessantes.
Às vezes, isso gera novos modelos de negócios. Na área de seguros de automóveis, por exemplo, o seguro já pode vir incorporado nos veículos de vários fabricantes. Ou você pode ter dispositivos físicos conectados por API que podem ser vendidos em um marketplace. Um dos exemplos é a Siemens. Eles têm dispositivos conectados por API que comercializam em seu site e também têm dispositivos de empresas terceiras que podem ser integrados aos dispositivos da Siemens. Isso agrega mais valor às inovações da Siemens e gera parcerias comerciais mais rápidas.
Há casos de empresas que faziam apenas duas ou três parcerias por ano e passaram a fazer 40 parcerias em um ano por conta da digitalização e de uma API bem projetada. Os recursos de negócios podem ser incorporados a novos ecossistemas e organizados de novas maneiras que os tornarão mais responsivos a mudanças disruptivas.
Vimos uma aceleração na automação comercial durante a pandemia. As APIs são uma parte importante da automação dos negócios, porque permitem que recursos da empresa sejam consumidos por meio de ferramentas de automações. Isso é um aspecto-chave para os negócios. E agora, com a IA generativa, há o potencial de ajudar a acelerar as automações usando a linguagem natural. Na medida que forem desenvolvidas no futuro, isso acelerará o ritmo de automatização dos negócios.
A mudança das equipes com o crescimento das APIs
Uma delas é a evolução da equipe central de serviços compartilhados. Em uma equipe de serviço compartilhado tradicional, sempre que queremos publicar ou modificar uma API, temos que abrir um ticket para essa equipe, e isso cria grandes gargalos.
Vemos um desejo de democratizar isso, colocando a publicação de APIs mais nas mãos das equipes de desenvolvimento e transformando essa equipe integração corporativa em uma equipe de capacitação.
As equipes de plataforma são outra tendência emergente. Esse é outro modelo de envolvimento da equipe de integração corporativa. A ideia de uma equipe de plataforma é que ela é uma equipe de infraestrutura. Portanto, em operações de infraestrutura, a infraestrutura é vista como um produto e os desenvolvedores que a consomem como os clientes. Muito parecido com como a Amazon e outros provedores de nuvem veem seus produtos de infraestrutura.
E essas equipes são responsáveis por gerar resultados como velocidade de lançamento no mercado e adoção. Isso agora está acontecendo nas equipes de infraestrutura e operações, não apenas nas equipes de API, mas inclui as equipes de API. Isso é muito importante para garantir que sua infraestrutura seja fácil de usar, automatizável e que possa ser adotada. E, novamente, a chave é remover esses gargalos de tempo para entregar valor, tempo para entregar APIs para produção.
Tendências em governança
A governança é uma coisa complicada. Existem duas razões principais pelas quais os programas de API falham. Uma delas é a governança, a outra tem a ver com a gestão do produto. O problema com a governança é muito semelhante ao que falei com a equipe de serviço compartilhado centralizado. Quando você precisa ir a uma equipe de governança centralizada para suas revisões e elas estão acumuladas, isso gera um atraso que acaba com sua agilidade.
Além disso, a governança “tamanho único” é outra tendência ruim. Uma API que vai transformar nossos negócios e que usa dados que precisam ser tratados por regulação, é diferente de uma API que só precisa de dados abertos na nuvem. É má ideia governar ambas da mesma forma, mas algumas organizações fazem isso.
Essa governança centralizada, de tamanho único, tende a falhar. E aí a reação é “se a governança não funciona, vamos acabar com a governança”. Isso é um erro, porque se as APIs são uma parte fundamental da sua estratégia de negócios e você não as controla, você tem uma estratégia de negócios desgovernada. E então a tendência é federar a governança, passando mais dessa governança para a equipe de entrega, para que eles possam ser autoatendidos. Assim como queremos passar a infraestrutura e a publicação de APIs para as equipes de entrega para fazer esse autoatendimento .
Uma tendência emergente em crescimento é automatizar sua governança. A automação da governança de APIs se tornará mais crítica e veremos isso crescer para apoiar esse modelo de governança federada.
Criando laços digitais
Quando desejamos criar laços digitais entre a empresa e seus clientes, seus fornecedores, seus parceiros de negócios, o padrão de integração para criar esses vínculos digitais deve se adequar ao cenário de negócios. As empresas se voltam para o REST como se fosse a única ferramenta. Mas isso não funciona em todos os cenários de negócios. A ideia do laço digital é partir do cenário de negócios e identificar como fazemos a conexão com a outra parte. REST pode ser uma opção, mas isso pode criar um equívoco de que o tempo todo é a melhor escolha. Não se deve perder de vista outros padrões de integração que, em alguns casos, são mais adequados. Você quer colocar o negócio na frente, não a ferramenta na frente.
Novas habilidades
Se você é apenas um arquiteto de tecnologia, você está obsoleto. Os arquitetos corporativos precisam pensar nos negócios. Eles precisam ser estrategistas que combinam estratégia de negócios com tecnologia.
Na Forrester, defendemos o que chamamos de modelo de arquitetura orientado a resultados. Temos todo um modelo para isso. A essência disso é que sua equipe de arquitetura corporativa deve ser responsabilizada pelos resultados de negócios, pelas melhores experiências do cliente, por criar um negócio adaptável, resiliente e inovador. E se a equipe de arquitetura corporativa não estiver fazendo isso, sua organização se tornará obsoleta, porque seus concorrentes, que estão fazendo isso, tirarão o mercado de você.